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COVID X IGREJAS - A VITÓRIA DA FÉ!

 

O fundamentalismo cristão frente à pandemia de COVID-19

 

A crise criada pelo novo coronavírus tem trazido pânico, sofrimento e, sobretudo, provocado inúmeras dúvidas sobre os comportamentos que devemos adotar durante esse período, tendo em vista a quantidade de informações com as quais somos bombardeados nos telejornais e, principalmente, nas redes sociais.

 Em tempos de guerras de narrativas, a verdade tem se tornado cada vez mais líquida, isto é, aquilo que é massivamente compartilhado, ainda que falso, se torna uma verdade. Por isso, no meio de tantas informações, corremos o risco de ser intoxicados por notícias falsas. Nesse passo, em um país religioso como o Brasil, se faz necessário levantar um debate sobre a responsabilidade que as denominações religiosas e suas lideranças desempenham em uma sociedade que passa por uma crise sanitária e econômica sem precedentes na história.

 Este artigo propõe reflexão especificamente sobre o papel que os cristãos estão desempenhando nesta crise. Isso porque, o último censo realizado em 2010, demonstrou que o Brasil continua sendo um país majoritariamente cristão, sendo que 86,8% da população se declara cristã (64,2% se declara católica e 22,6% evangélicos). Em números, mais de cento e oitenta milhões de brasileiros se declaram cristãos.

 Sendo assim, há que se perguntar: como as lideranças religiosas estão orientando seus fiéis e como suas posturas perante essa crise os influenciam?

 Nos últimos anos temos acompanhado um aumento do ultra tradicionalismo no meio cristão e o surgimento de um pensamento fundamentalista que, infelizmente, tem provocado um movimento de cisma entre a razão e o pensamento religioso.

 Recentemente, circulou um vídeo pela internet do pastor Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Nesse vídeo, o pastor apresentou uma oferta de sementes de feijões pelo valor de R$ 1.000,00 (mil reais), alegando que as “sementes abençoadas” seriam uma forma de cura para a COVID-19. Imediatamente, o Ministério Público Federal apresentou uma notícia crime contra o pastor perante ao Ministério Público do Estado de São Paulo, requerendo que o órgão investigasse o religioso por suposta pratica do crime de estelionato[1]. Qualquer análise teológica rasa pode apontar que situações como essas são frutos de uma leitura distorcida da Bíblia e, infelizmente, representam indícios de mercantilização da fé. 

 Também no início deste mês, a Coalização pelo Evangelho, entidade religiosa que reúne líderes evangélicos de diversas denominações, como por exemplo a Primeira Igreja Presbiteriana do Recife e a Convenção Batista Reformada do Brasil, publicaram um manifesta onde criticaram abertamente o “endeusamento da ciência” e apontaram uma suposta queda da credibilidade da mídia. 

 O pastor Silas Malafaia, em vídeo publicado em seu canal do YouTube, no dia 23.03.2020, publicou um vídeo intitulado “Coronavírus! Querem fechar as igrejas que sou pastor? Recorram à justiça!”[2]. Nesse vídeo, o pastor afirma que não fecharia suas igrejas e que “a igreja nessa hora é uma agência de saúde emocional tão importante quanto os hospitais”.

 Nas cidades do interior do país, os prefeitos municipais estão sofrendo pressão enorme por parte de lideranças evangélicas para enquadrar as igrejas como atividades essenciais e receber autorização para abertura das igrejas, isto é, ignorando todas as indicações das autoridades sanitárias sobre a necessidade de se evitar aglomerações para que o contágio do vírus seja diminuído. Isso se deve, inclusive, pelo fato de o Presidente da República incentivar o lobby da bancada evangélica e ter editado o Decreto 10.292, de 25 de março de 2020, que insere atividades religiosas de qualquer natureza como atividades essenciais.

 Contudo, vivemos em um cenário de pandemia de uma doença nova, ou seja, de uma doença que a medicina ainda não descobriu um tratamento eficaz e tampouco possui uma vacina desenvolvida. À vista disso, todas as autoridades de saúde do mundo indicam que a melhor maneira de combater a doença e diminuir o contágio para que os médicos tenham tempo de estudar os casos e pesquisar possíveis tratamentos. Por essa razão, as igrejas foram totalmente afetadas com as determinações a respeito de isolamento social pelos estados e municípios, tendo em vista que a necessidade de evitar aglomerações tornou impossível a reunião dos fiéis em suas igrejas para realização de cultos e demais atividades. 

 É interessante relembrar um caso internacional sobre o impacto das igrejas não colaborarem com as medidas de distanciamento social. Na Coréia do Sul, o pastor Lee Man-hee, líder da igreja Shincheonji, está sendo investigado pelas autoridades sul-coreanas, pois dados do governo apontam que cerca de 73% dos casos de COVID-19 no país estão relacionados com a igreja do de Lee Man-hee, que realizou cultos com milhares de pessoas mesmo com o início da epidemia no país.


Por Afonso Rangel Luz e Pedro Henrique Garcia Ayrolla Molina Simon

Foto: Yonhap Reuters

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